Desastrada maquinaria analítica: O analista e o seu desejo
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O texto parte da figura histórica de Jai Singh, sultão indiano do século XVIII que construiu observatórios astronômicos sem o uso de telescópios, para introduzir a metáfora do caleidoscópio de Julio Cortázar. Inspirado por esses observatórios, Cortázar criou um “observatório desastrado” — um artefato que, em vez de mirar os astros celestes, permanece rente ao chão, lidando com fragmentos terrenos da realidade.
Esse maquinário imperfeito, que opera por meio do desejo, oferece uma alternativa ao saber técnico: ele propõe um olhar deslocado, imaginativo e aberto à contingência. Nessa chave, o texto traça um paralelo com a prática analítica, apontando que a psicanálise também é uma máquina desastrada, pois seu funcionamento depende do desejo — tanto do analisando quanto do analista.
O desejo, aqui, é entendido como renúncia à orientação externa (como a dos astros ou de Deus) e abertura à contingência. Assim, o analista não oferece um caminho técnico para a felicidade, mas opera sobre os fragmentos do discurso, incidindo sobre o desejo que estrutura a ética de cada sujeito. A psicanálise, como o caleidoscópio, reorganiza o mundo simbólico do analisando, sem garantir respostas, mas sustentando a aposta de uma nova posição diante do viver.
Por fim, o texto articula a prática analítica à ética aristotélica, compreendida como uma ciência prática orientada ao bem. Assim, sugere que o analista, ao intervir sobre o desejo, também participa de uma ética, embora essa não se fundamente numa moral normativa, mas em uma escuta que convoca o sujeito à responsabilidade por sua própria posição.